A jornalista Elisa Torres conta que precisava atualizar algumas vacinas do filho Miguel Torres Farias, 12 anos, que ficaram em atraso devido às restrições impostas pela pandemia entre 2020 e 2021. Durante a campanha de multivacinação, o adolescente foi levado a um posto de saúde no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, onde conseguiu atualizar a caderneta com vacinas contra tétano e HPV. “Agora está tudo certo. A minha mãe era assistente social e eu cresci indo ao posto, participando de todas as campanhas. Acho muito importante”, afirma.
Ela relata que buscou divulgar, o máximo possível, a
importância desta campanha campanha de vacinação como um período de atenção
especial à prevenção de outras doenças transmissíveis, depois do enfrentamento
do cenário mais grave da pandemia, quando as pessoas se recolheram em casa e
ficaram muito assustadas. “A gente também evitou e foi deixando um pouco de
lado as outras vacinas já que a prioridade nos postos era para a vacina da
covid-19,” comenta.
Passado o período em que avançou mais a vacinação contra
covid-19 para idosos, grupos prioritários, adolescentes e jovens, Elisa
considera que é fundamental as famílias tentarem dar atenção especial às
vacinas que estão pendentes. “O meu conselho é para que vão aos postos de saúde
para atualizar as cadernetas. Eu fiz isso com o meu filho”, reitera a
jornalista. Ela ainda destacou o risco de retorno de doenças erradicadas,
lembrando sobre o exemplo do registro de sarampo que, em 2020, provocou a morte
de uma criança, no Rio de Janeiro, depois de duas décadas de controle.
Um
território onde tudo falta
Morador de Capivari, em Duque de Caxias, Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, o pescador Gilciney Lopes tem enfrentado
dificuldades para atualizar a caderneta de vacinação dos três filhos de 9, 8 e
5 anos. Ele conta que a ida até o posto de saúde mais próximo exige
deslocamento de ônibus e que com a oferta precária de transporte coletivo, a
espera nessa localidade pode levar até duas horas. Essa limitação, somada às
dificuldades da luta diária pela sobrevivência familiar e à pandemia, tem
contribuído para que as principais vacinas das crianças estejam atrasadas,
segundo relata.
Não temos serviços de saúde, água, saneamento ou asfalto nas
ruas. Se uma criança ficar doente, a gente tem que buscar socorro no Hospital
Infantil, no Centro de Caxias, ou no posto de saúde mais próximo, em
Saracuruna. Mas nada é perto e depender de ônibus é terrível por aqui. A espera
no ponto pode levar até duas horas se a gente perder uma condução que acabou de
passar. É tudo precário. Vivemos da falta de tudo, sem amparo do poder
público”, afirma sobre a realidade da localidade onde vive há cerca de 15 anos.
“Não
temos serviços de saúde, água, saneamento ou asfalto nas ruas. É tudo precário.
Vivemos da falta de tudo, sem amparo do poder público”.
Gilciney
Lopes
Pescador
de Caxias
Mesmo sem infraestrutura adequada na área periférica onde
vive, como presidente da Colônia de Pesca de Duque de Caxias, o pescador tem
liderado inúmeros movimentos pela proteção dos rios e manguezais que, no
passado, garantiam a sobrevivência da pesca para ele e outras famílias locais.
Nos últimos anos, a degradação desses ambientes, causada pela poluição
industrial e pelo despejo de esgoto doméstico não tratado, dentre outros
resíduos urbanos, fez desaparecer peixes e crustáceos nesse trecho da Baía de
Guanabara.
Além de lutar na Justiça por reparação de danos causados por
empresas que atuam na região, Lopes percorre diariamente o entorno poluído, com
seu barco, em busca de materiais recicláveis para vender e garantir o sustento
da família. Nessa busca cotidiana pela sobrevivência, ele reitera que faltam
tempo, energia física e condições financeiras para cuidar mais da saúde da
família e da sua também.
Duque de Caxias é um município de inúmeras contradições
sobre a vacinação. Embora seja sede de um polo petroquímico que conta com
grandes empreendimentos industriais, dentre os quais uma refinaria da
Petrobras, além de ocupar a posição 1.574 no ranking nacional com IDH municipal
de 0,711 (índice alto), é habitado por famílias como a de Gilciney Lopes que
enfrentam inúmeras dificuldades por demandas coletivas negligenciadas pelo
poder público. Em 2020, a cidade alcançou somente 19,46% de cobertura vacinal
total (incluindo nessa contabilidade, vacinas importantes para a infância como
poliomielite, 23,73%, e 30,02% para a tríplice viral, primeira dose). Em 2019,
a cobertura vacinal total tinha alcançado 74,34% (com 93,56% para poliomielite
e 120,33% para a tríplice viral, primeira dose).
(*)
Esta reportagem só foi possível graças ao projeto “Primeira Infância é
Prioridade” da ANDI/Rede
Nacional Primeira Infância em parceria com a Petrobras.
Jornalista apaixonada por temas socioambientais. Fez
doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e
Desenvolvimento (PPED), vinculado ao Instituto de Economia da UFRJ, e mestrado
em Ecologia Social pelo Programa EICOS, do Instituto de Psicologia da UFRJ. Foi
repórter do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro e colabora com veículos
especializados, além de atuar como consultora e pesquisadora.
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